RBABB
Limites da Reserva da Biosfera do ABB |
Descrição:
O arquipélago se situa ao largo da costa da Guiné-Bissau no
estuário dos rios Corubal e Geba nas coordenadas de 11° 14’ latitude N e de 16°
02’ longitude W, englobando este um vasto complexo que cobre uma superfície
total de 1 046 950 hectares ocupados quase deforma exclusiva pela etnia bijagó.
Os limites do bem proposto que se assemelha a forma de delta e correspondendo
aos limites da Reserva da Biosfera do Arquipélago de Bolama-Bijagós, são
determinados de maneira a integrar o conjunto de ilhas do arquipélago,
respeitando a linha batimétrica dos 10 metros como critério de base para os limites
externos. Todos estes critérios considerados ditaram, esta delimitação do
conjunto globalmente coerente e funcional de ecossistemas do arquipélago, do
território tradicional da etnia bijagó e os limites administrativos e a
integração numa única unidade ambiental. Visto a partir do ar, o arquipélago
mostra aparência de uma unidade recortada por grandes canais orientados em
aventais em desposição arboressantes que parte de um ponto de convergência
situado a nordeste ao nível da ilha de Bolama, segundo a sua formação da origem
deltaica.
O bem apresenta características que nos parece justicar à presente
proposição. Único arquipélago deltaico ativo na costa atlântica que sofre
influências diversas e particulares no plano sedimentodológico e hidrodinâmico
que explicam a presença de grandes planícies vasosas. Estas planícies
intermareais constituiem o segundo sítio de invernagem, o mais importante para
as aves limícolas da via de migração este-atlântica. A influência de apwellings
costeiros e dos estuários conhecidos como “Rias do Sul” e a presença de vastas
superfícies cobertas por mangais contribuem para enriquecer o arquipélago no
plano biológico, justificando a presença de uma biodiversidade marinha e uma
riqueza haliêutica importantes. Aqui se encontra, nomeadamente uma de três
colónias mais importantes de tartarugas-verdes do planete, uma forte densidade de
manatins, uma população notável e original de hipopótamos “marinhos” e uma
diversidade de peixes cartilaginosos.
A densidade populacional é baixa aqui, onde os habitantes são na
sua maioria da etnia bijagó que dá o seu ao arquipélago. O modo de gestão
tradicional do espaço e de recursos naturais é determinada por um conjunto de
regras costumeiras e magicoreligiosas, a que cujo respeito, possibilitou a
preservação da paisagem e biodiversidade, nomeadamente graças a presença de
ilhas sagradas e de sítios de iniciação (pontas de fanado), que ainda nos
nossos dias desempenham as suas funções primarias, transformando-se em oásis da
biodiversidade.
Por estas diversas razões evocadas o Estado da Guiné-Bissau
decidiu criar a Reserva da Biosfera do Arquipélago de Bolama-Bijagós e mais
três grandes áreas marinhas protegidas. Assim deseja então, e com a colaboração
das autoridades locais e tradicionais submeter o presente Dossier de Candidatura
ao Património Mundial da Humanidade.
Homem e cultura bijagó
O Arquipélago de Bolama-Bijagós é habitado de maneira quase particular
na Guiné-Bissau por uma única etnia, que lhe dá o nome. Aqui é o único espaço
onde a etnicidade é espacial na Guiné-Bissau. Esta relação espacial e
exclusiva explica-se por razões históricas e geográficas que conduziram os
bijjagós a esconderem os seus préstimos a mãe natureza, assim como as
especificidades do arquipélago se embrenharam nas relações sociais dos bijagós.
Existe quase uma relação indissociável dos dois lados, onde o património
natural e cultural, evoluíram em conjunto dentro de um processo de influências
recíprocas. As particularidades da etnia bijagó, entretanto originais onde o
seu ambiente físico se refleta na língua bijagó, constituindo um ramo principal
e independente da sub-família oeste-atlântica que apresenta importantes
variações lexicais e morfológicas de ilha para ilha, evocando um verdadeiro
endemismo linguístico. Os 32 500 habitantes do arquipélago, cerca de 90 % são
da etnia bijagó. Cerca de 177 tabancas recenseadas, são ocupadas de forma
permanente 21 ilhas principais entre os 88 existentes no arquipélago. Ao lado
das ilhas habitadas em permanência encontram-se ilhas secundárias ou anexas que
são usadas de maneira temporária para actividades ligadas a rizicultura de
mpampam e exploração do palmeiral. Outra categoria, a terceira, é composta por
ilhas sagradas que são reservadas para cerimónias específicas. Consideradas
como moradas dos espíritos dos ancestrais e poderosos irãs que as protegem de
intrusões indesejadas, o acesso a elas é regido por regras estritas tais como,
é reservado o acesso unicamente aos iniciados; inumação interdita, derrame de
sangue interdito, e exploração de recursos naturais proibida. Vai-se até ao
ponto de proibir a prática de relações sexuais em certas ilhas sagradas. Assim
as ilhas sagradas transformam-se em verdadeiros oásis para a vida biológica,
refletindo a influência direta do seu estatuto e das práticas religiosas e
culturais sob a conservação de patrimónios naturais. Isso é que permitiu com
que a ilha sagrada de Poilão, acolha até hoje a maior colónia de
tartarugas-verdes do continente africano e a maior parte das colónias de aves
estão presentes nas vintenas de ilhéus sagradas que se encontram no arquipélago.
É interessante dizer que o modelo de gestão tradicional do espaço,
é admirável, ainda que se trate da gestão do espaço num território tão vasto e
complexo como é do arquipélago dos bijagós, que corresponde exatamente aos
princípios de uma reserva da biosfera, onde encontramos as áreas centrais
dedicadas à conservação, zonas tampões e áreas de transição. Mencionamos aqui
que, relativamente às zonas e as medidas de gestão, previstas durante a criação
da Reserva da Biosfera do Arquipélago de Bolama-Bijagós e de três áreas
marinhas protegidas (AMPs) que a integram, são inspiradas em grande parte da
organização coerente do espaço territorial bijagó. As medidas de conservação
modernas, vieram na realidade para reforçar e dando um estatuto jurídico a esta
organização tradicional, reconhecendo a sua pertinência.
Camabi de Etida, Menegue 2013 |
A organização social repousa sobre tudo no sistema de classe de
idade. São essas classes que conduzem os jovens progressivamente ao estatuto de
homens grandes (anciãos), passando pela sucessão de etapas através de quais, se
realizam cerimónias de iniciação. Para passar de uma etapa a outra de classe de
idade, os jovens devem pagar tributos aos anciãos nas realizações de alguns
rituais, geralmente em forma de produtos naturais ou da biodiversidade
(moluscos, peixe, carne de tartaruga, vinho de palma, etc.), para poder ter
acesso aos segredos e conhecimentos. O pagamento de tributos aos anciãos
(n’ubir kusina em bijagó) que é fundamental do sistema antiaristocrático, é
necessário para obter o estatuto de adulto e todos os direitos que dele advém:
direito à terra, ao casamento, pertença a categoria daqueles que recebem e não
daqueles que doam e finalmente, perspectivar uma viagem para o sereno além. Os
rapazes a partir dos doze anos, os canhocan, começam a ser instruídos para os
segredos da farmacologia e aprendem a fabricação do koratoko. Koratokos, são feitos
de folhas de palmeira entrelaçadas de maneira específica, destinadas a atrair
os espíritos poderosos ancestrais para a proteção de recursos específicos ou
sítios de iniciação ou espaços cuja entrada não é permitida aos forasteiros.
Entre 18 aos 27 anos, mais ou menos, é a etapa dos Cabaros, caracterizada por
um período de liberdade consagrada aos amores e à dança, durante a qual, um
homem pode ter filhos. Cultiva-se neste período a generosidade, a força
interior e exterior e habilidades de um dançarino para poder angariar fama junto
das mulheres. Os Cabaros durante as danças, mostram as suas forças e
habilidades, vestindo-se e enfeitando o corpo com roupas e máscaras
representativas de peixes cartilagíneos (tubarões e peixe-serra), tudo em
representação de comportamentos dos animais totémicos (força da natureza). A
classe de Camabis, é considerada a mais difícil. Depois da iniciação, os homens
devem dormir numa baraca rudimentar fora das tabancas, não podem falar com as
mulheres e ter relações sexuais e devem realizar uma série de cerimónias e
oferendas aos anciões. Durante um período de 5 anos toda a energia de um cabaro
é consagrada a sua comunidade a qual, ele deve dar todo o produto do seu
trabalho: que seja da pesca e ou da agricultura. Aqui eles só podem estar para
ser considerados homens de pleno direito se conseguirem cumprir com as
obrigações todas que, neste caso, os direitos costumeiros lhes atribuírem neste
período: Casamento, terras e ter relações com os espíritos. O Cabonga,
representa a última etapa do sistema de classes de idade. Aqui nesta fase o homem
conhece os segredos todos e partilha os seus conhecimentos com o régulo
(Oronho) e sacerdotisas (Okinkas), responsáveis pelas cerimónias femininas e
cultos de possessão, assim como por aqueles que tocam o bombolon para a tomada
de decisões rituais, religiosas ou jurídicas.
Duas principais classes de idade são observadas pelas mulheres. A
iniciação de campunes. As meninas encarnam os espíritos de jovens homens mortos
sem poderem cumprir cabalmente com os ciclos iniciáticos e assim condenados para
eternidade a erros cometidos na terra. Uma vez possuídas pelos espíritos dos
jovens que encarnam, durante a cerimónia de defunto, as numerosas oferendas
destinadas a honrar sacerdotisas, quase sempre constituídas de moluscos, as
mulheres passam para a classe de Okonto que lhes dá o direito de se casarem.
Estas características socioculturais e magico-religiosas estão
descritas a medida que tenham consequências determinantes no estado de
conservação da biodiversidade. A presença necessária de sítios de iniciação
diferentes para os homens e mulheres, dentro dos quais os iniciados se refugiam
para um período de duas ou mais semanas exige uma conservação efetiva do meio
natural, para poder assegurar a alimentação dos iniciados. E por outro lado,
servindo-se de escola da farmacologia tradicional, os iniciados deverão
encontrar aqui, tudo o que é necessário para aprenderem os segredos das plantas
medicinais. É aqui que se aprende os segredos das plantas e os segredos
próprios de cada classe de idade. Ser bijagó, significa antes de tudo
frequentar a escola da floresta. Impossibilitados de acumular bens materiais e
financeiros, a medida que estes deverão ser redistribuídos pela comunidade e
aos ansiões, dissuade a exploração de recursos naturais para além do necessário
para satisfazer a necessidade imediata de subsistência da comunidade ou da
cerimónia. Por isso, se considera que muitos projectos de desenvolvimento se
afundaram por motivos vários, mas este é, nomeadamente, o importante no ramo da
pesca artesanal por exemplo. Os homens implicados nos projetos não poderiam
ver-se fora desta noção tradicional de não exploração para além da necessidade
de sobrevivência da comunidade. As cerimónias são acompanhadas sistematicamente
por sacrifícios e oferendas provenientes de elementos determinados da
biodiversidade. A tartaruga entre outras oferendas é uma das mais importantes e
apreciadas. E segundo vários estudiosos, daqui provém a necessidade da
conservação destes elementos necessários para a realização de certas cerimónias
importantes para vida social dos bijagós. Acontece regularmente o adiamento de
cerimónias devido aos problemas com escassez de certos produtos naturais
indispensáveis a realização destas cerimónias ou por outro lado, que as cerimónias
sejam realizadas num momento porque há abundância de recursos, num ano de
fartura por exemplo. Aqui referimo-nos a um aspeto fundamental do animismo
bijagó que reflete o carater mutualista da interdependência dos patrimónios natural
e cultural.
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